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quarta-feira, 10 de julho de 2013

Viver bem, mesmo com pouco!



     Quem mora sozinho por muito tempo, enfrenta dois fenômenos padronizados que só variam de intensidade, de acordo com a pré-disposição de cada um. O primeiro e mais fácil de perceber é a liberdade social e psicológica que, uma vez experimentada, pouquíssimos desejam voltar atrás.     

     Desaparecer por uma semana e não dar satisfação a exatamente ninguém sobre onde esteve ou quem com esteve, é bem parecido com o ato de pular de pára-quedas. A adrenalina daqueles poucos segundos pode ser temporária, nunca se tornando necessária. Fica aquele gostinho de quero mais, logo esquecido pela rotina semanal. No entanto, a adrenalina pode atingir um ápice contagiante em certas pessoas, a ponto de você transformar o paraquedismo em hábito e, depois, em vício. O resultado é que você nunca mais vai querer abandonar o paraquedismo. A liberdade passa a ser uma condição de pré-existência na sua vida.

     O segundo fenômeno, em geral, é uma conseqüência direta do primeiro e só é percebido depois de vários anos, quase sem querer. É o desapego a uma série de conceitos sociais que, com o tempo, você percebe que são pueris, inócuos e, quase sempre, inúteis. Pode ser um reles desapego material. E também pode ser um desapego com si mesmo. É quando você entende que “viver bem com pouco” deixa de ser uma questão de mera sobrevivência para se tornar um estilo de vida. Menos compromissada com opiniões alheias, problemas insolúveis e paixões insalubres.

     Alguns estudiosos desocupados definem esse comportamento como uma volta às origens primitivas do homem como figura social. Seria a acentuação dos nossos instintos mais básicos de individualidade. Não é à toa que tantas vezes uma relação afetiva, ou até mesmo a tentativa de alguém furar esse bloqueio primitivo de liberdade, coloca em xeque toda uma vida e sanidade mental que levaram anos para amadurecer.

     Você supera aquela fase de tratar sua casa como o seu feudo, seu domínio. Fica para trás aquela noção de ter exatamente as coisas onde você quer que estejam, na bagunça ou organização que você entende. Mesmo que isso signifique, eventualmente, esquecer comidas estragadas na geladeira, ter garrafas vazias espalhadas pelo quarto, nunca ter o que oferecer às visitas e considerar aquelas latas de sardinha suas melhores amigas nos tempos difíceis.

     Com o tempo, você percebe que seu feudo é apenas mais um conceito abstrato, dentre tantos outros que você se forçou a esquecer. Que existe uma floresta lá fora que também não vai lhe exigir contratos, nem amarras e, quem sabe, estará cheia de outros animais errantes e primitivos como você, como eu. E que um teto nada mais é do que isso: um teto. E tetos são iguais em qualquer lugar. Podem ser maiores, mais frios e até mais confortáveis, mas continuarão sendo apenas tetos - mesmo que seja o seu teto.