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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Afinidades versus diferenças

     O que funciona melhor no amor: um casal que combina em tudo ou um que discute e discorda de tudo? A verdade é que, independentemente de combinar ou não, o amor existe e une até mesmo almas que não são tão gêmeas assim, transformando uma relação num romance bem-sucedido.


     Imagine os dois sendo absolutamente diferentes. Um gosta de dormir cedo e o outro de viver na balada. Um gosta de verão e o outro se realiza no frio. Um ser órfão do Che Guevara e o outro ir com a cara do Schwarzenegger. Pois é. Nada como um bom conflito para manter a relação em efervescência.


     Agora tente imaginar um relacionamento onde os dois são absolutamente iguais. Gostam dos mesmos filmes, acordam na mesma hora e com o mesmo humor, decidem pelos mesmos pratos no almoço ou no jantar, têm a mesma opinião sobre tudo e o mesmo gosto para se vestir. É a verdadeira sintonia para manter a relação na santa paz.


     O primeiro casal defende a idéia de que “os opostos se atraem”. Não parece ser desgastante, principalmente quando a diferença se restringe apenas ao temperamento: um é calmo como um Buda e o outro vive com os dedos enfiados na tomada. Funciona perfeitamente quando os dois têm afinidades de caráter. Porque se um for honestíssimo e o outro vigarista, como vão fazer para criar os filhos? Conta conjunta no banco então, nem pensar!


     Na realidade, o relacionamento a dois é justamente isso: uma conta conjunta. Os dois depositam, os dois fazem retiradas, e a confiança tem que ser absoluta. Se um está injetando mais “capital” na relação do que o outro, desequilibra o jogo, começam as cobranças. Se um está sacando muito mais felicidade do que o outro, desequilíbrio de novo, frustrações baterão às portas. Um não pode deixar o outro a descoberto – é ai que pintam os cheques voadores, se é que você me entende.


     No entanto, o sonho de consumo da maioria das pessoas é encontrar um candidato a príncipe encantado que seja praticamente um clone. Alguém que não obrigue você a freqüentar o céu e o inferno a cada 20 minutos. Uma alma verdadeiramente gêmea. Quando a gente encontra esse ser abençoado, é menos um problema pra pensar.


     Convenhamos: você passa o dia inteiro no trabalho tentando defender suas idéias, brigando com pessoas que não entendem seu ponto de vista e tendo que engolir sapos porque, afinal, faz parte de uma “equipe”. Tudo o que você deseja é abandonar o ringue no final do dia e voltar pra casa, onde não haverá nenhum adversário a sua espera. Nada pode ser mais confortante do que se relacionar com alguém que só de olhar pra você já sabe o que você está pensando, além de lhe apoiar em tudo.


     Você não precisa preparar um discurso de defesa cada vez que sai sozinha com as amigas, não precisa pagar penitência por causa de um atraso bobo, não precisa fazer um relatório de prós e contras toda vez que chega a hora de escolher para onde vai nas férias ou no verão. Um sugere: “Bahia”. O outro: “fechado!” Uma verdadeira economia de verbo.


     Resumindo, tanto as almas opostas como as almas gêmeas podem formar parcerias bacanas. É tudo uma questão de encaixe. Com o passar do tempo, parece natural que fiquemos mais exigentes e a paciência diminua. E como!


     Nessas diferenças ou igualdades entre os casais, o que é muito diferente corre o risco de ver as discussões ficarem mais sérias e agressivas, e os dois podem acabar virando inimigos. Enquanto o casal que nasceu um para o outro, de tão igual, corre um risco oposto e igualmente letal: o de virarem amigos!


     Então, qual seria a fórmula da felicidade eterna entre os casais? Eu diria que felicidade por um período de tempo a gente pode até conquistar com qualquer tipo de parceiro, seja ele idêntico, inverso, mais velho, mais novo, de outra raça, rico, pobre ou estrangeiro. Mas felicidade eterna? Não. Não acredito que nada seja tão permanente assim, nem mesmo a felicidade. Tudo na vida é provisório, inclusive eu e você.


     Por isso, temos que encarar que a felicidade depende 50% de nossas escolhas e 50% de algo completamente incontrolável e imprevisível: a sorte. É certo que o amor é uma emoção intensa, sublime, essencial, motivadora, é ele que faz as bocas se unirem, os corpos se abraçarem, bilhões de vidas se programarem para serem duas em uma. O amor é e sempre será poderoso, mas o tempo lhe é um adversário à altura. Quando o amor e o tempo se confrontam, o amor às vezes ganha, às vezes é o tempo que vence. Não é questão de força, de muque. O coração é forte e faz sua parte. Porém, contra a sorte, “não há quem possa”.