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quarta-feira, 16 de agosto de 2006

A doçura que faz falta no relacionamento


     De repente, começamos a falar mais duro, a economizar sorrisos e a fazer exigências. Tudo sem nos darmos conta de que, assim, o amor desanda.     
     Ser doce no início do relacionamento é fácil, mas segurar a onda durante algum tempo de convivência parece realmente admirável. Ainda mais hoje em dia...

     Tenho uma certa tendência em culpar o estilo de vida moderna pela amargura nos relacionamentos que me cercam. Talvez seja injustiça. A vida anda dura, mas cabe a nós decidir com que astral vamos enfrentá-la e dar adeus à amargura que vai se instalando na mesa de jantar, no sofá da sala e sob nossos lençóis.

     Eu, você, sua melhor amiga, sua prima, todas nós - e os homens também - temos um quê de abelha. Sabemos fabricar mel e, ao mesmo tempo, conservamos nossos ferrões escondidos. Faz parte da natureza, diria. Só que, às vezes, até por instinto de sobrevivência, alguns exageram nas ferroadas e esquecem de produzir o doce que alimenta os relacionamentos.

     Há doçura na vontade de ir correndo pra casa depois do trabalho só pra dar um beijo naquele que nos espera. Ou no interesse em perguntar como foi o dia dele e querer mesmo saber a resposta. Lembra daquelas palavrinhas mágicas que tanto tentamos ensinar aos que nos cercam? Pois acredito que há doçura quando sabemos dizer "com licença", "por favor" e "me desculpe". Sem exageros, é claro, pois tudo o que é melado enjoa.

     O excesso de cuidados e atenções sufoca, abafa, afasta, engasga. É aquela velha história de ficar repetindo "eu te amo" sem parar. Lá pelas tantas, banaliza e perde a graça. Sem contar que ninguém é tão carente a ponto de precisar escutar isso a cada dois segundos. Precisamos, sim, de quem nos compreenda, nos surpreenda, nos estimule em todos os sentidos. E precisamos devolver na mesma moeda. Doçura é uma via de mão dupla. A gente dá e a gente quer receber. Se não for assim, bem, aí as abelhas podem picar.

     Algumas situações falam por si, não mentem. Por exemplo, a televisão sempre ligada, interagindo mais do que o casal. Ou um dormindo sozinho no quarto, enquanto o outro não sai da frente do computador. Quando imagens como essas se tornam corriqueiras, a relação já mergulhou na acidez. A gente percebe os sinais. Sentimos que falta tempo, vontade e dedicação, mas, muitas vezes, não chegamos a acreditar que o relacionamento esteja correndo perigo. Ficamos acostumadas com a falta de doçura, e a frieza instala-se no ambiente como se fosse um móvel de canto.

     Se você assistiu ao filme Beleza Americana, lembra da personagem interpretada por Annette Bening, um caso típico de como a amargura pode chegar ao casamento. A atriz vive uma mulher de relativo sucesso profissional que critica o marido em tudo, que o vê como um fracassado, que renega um carinho porque a cerveja pode cair no sofá. É a caricatura de muitas relações em que o ter está acima do ser, a famosa crise de valores que faz com que muitos casamentos mais pareçam uma sociedade com fins lucrativos. A parceria, o amor e o carinho, tudo isso fica nas cláusulas miúdas do contrato. E a doçura... Bem, essa coitada já nem faz parte da história.

     A luta por conquistas materiais influencia, e muito, nosso nível de doçura. Há poucas gerações, as pessoas decidiam ficar juntas com expectativas diferentes das nossas. Vejo meus pais, por exemplo. O que eles mais queriam no início da vida de casados era uma casa própria e um automóvel econômico. O resto, se viesse, era lucro. Não que eu quisesse trocar de lugar com a minha mãe ou a minha avó. Não consigo me imaginar casando virgem ou sem ter um trabalho que eu ame. A questão é que, naquela época, havia mais paciência para se constituir um patrimônio.

     Hoje, nossa meta é muito mais do que um teto. Almejamos um apartamento de cobertura com vista para o mar. Não basta ter um carro que ande - precisamos daquele modelo com design arrojado, air bag duplo e motor 2.0. E tem ainda o aparelho celular último tipo, o computador que praticamente pensa sozinho, o DVD ultracompleto, a roupa de grife e a viagem à Europa nas férias de verão. Tudo para ontem, pois a vida é breve e ninguém tem tempo a perder.

     Sinto muito dizer, quem não herdar uma megafortuna terá que trabalhar pelo menos 20 horas por dia para conquistar tudo isso. Então, como arranjar tempo para preparar um jantar à luz de velas ou curtir um banho a dois bem demorado? Se você encontrou alguma semelhança entre essa história e a sua, é hora de repensar os valores. Existe muita coisa maravilhosa que não dá para comprar. E a doçura é uma delas.

     Tenho um casal de amigos que está junto há mais de 20 anos. Ele é um advogado de prestígio; e ela, sócia de uma empresa de design. No início do casamento, no entanto, faltava tudo em casa, até dinheiro para pagar a luz. Vergonha, irritação, revolta com isso? Que nada. Eles lembram essa época com ternura. Aproveitavam o escuro para se divertir, criando um clima romântico com velas. Claro que a situação não durou muito, mas o legal é que eles faziam questão de encarar o problema com bom humor. Minha amiga conta que foi um período maravilhoso. Há pouco tempo, declarou que o marido era tão ou mais importante do que os filhos. Eu fiquei meio chocada, questionei a afirmação, e ela deu uma resposta muito clara: filhos crescem e vão embora de casa, o marido vai envelhecer com ela, é aquele que escolheu como companheiro.

     A lição que tirei dessa conversa toda foi a de que, quando sentimos que encontramos alguém especial, único e insubstituível, precisamos investir na doçura. Uma pessoa assim merece nossa admiração, respeito, carinho e atenção. É difícil determinar a dose certa de doçura. Alguns gostam de uma pitada de açúcar, outros de uma colher de sopa. Depende da personalidade e das expectativas de cada um.

     Pessoas meigas e tranqüilas são naturalmente mais doces, muito mais dadas a rompantes de romantismos. Já as de temperamento duro nem por isso são avessas à ternura. Apenas encaram tudo de uma forma mais racional. Mas nada impede que um tipo se relacione muito bem com o outro. O importante é estabelecer uma cumplicidade, cada um com o seu mundo, mas ambos pelo bem da relação.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

"Cuidado boquinha com o que fala!"


Uma noite com ar de especial, sessão solene e salão da Câmara Municipal de Vereadores de Campos lotado. Talvez em uma das raras noites em que a casa tivesse registrado a presença de todos os seus ilustres membros, no entanto, os mesmos estavam ali para homenagear importantes personalidades e profissionais de destaque em suas diversificadas funções.
Atrasada alguns minutos para o início da sessão, tive que acompanhar as homenagens de pé, ao lado de meus familiares, até que conseguimos ter acesso a parte interna do salão, mas era notório que o espaço já não comportava mais ninguém. Ainda assim, mais pessoas chegavam para prestigiar a solenidade.
Não sei definir o que é melhor entre observar e ser observado. No entanto, quando você tem a possibilidade de olhar de fora uma situação, ela se torna mais interessante. Alguns estavam ali para aplaudir amigos, prestigiar parentes e outros para “puxar o saco”, porque essa categoria de gente é igual a tiririca – tem em qualquer lugar. Ah! E tem também o que vai para bisbilhotar, espalhar seu veneno e deixar claro a “dor de cotovelo”, ou melhor, o recalque por ter seus sentimentos e desejos reprimidos.
Sempre escutei, desde criança - afinal, educação vem de berço -, que devemos respeitar as pessoas e, principalmente, o ambiente, guardando para si todo e qualquer comentário, mesmo porque, posso falar o que quiser, desde que eu garanta a firmeza necessária para ouvir depois.
No momento em que meu nome fora citado para receber a Ordem do Mérito Dr. Mário Ferraz Sampaio, conferido exclusivamente aos profissionais da área de comunicação, por reconhecimento notório dos feitos e trabalhos realizados em seu âmbito profissional, uma pessoa da família ficara observando enquanto eu caminhava para obter a homenagem.
No público presente, uma pessoa se mostrava surpresa, quer dizer, perplexa. Afinal de contas, poderia esperar surpresa ou admiração de um amigo, mas deste cidadão, não poderia haver outra manifestação que não fosse a de espanto. Contudo, não era o fato de estar recebendo a homenagem que o deixara atônito, porque ele conhece meu trabalho. O que o incomodava era ver ali alguém que defende o direito dos cidadãos, alguém que não está nem um pouco preocupada com status ou posição social quando se vive em uma cidade aonde tem gente morrendo sem que ao menos saibamos o motivo. Isso sim incomodou meu colega de profissão, que não parava de dizer: “Mas ela é Garotinho! Eu conheço ela!”.
Gostaria de esclarecer ao querido amigo que, quando se é preocupado com as causas sociais e não apenas com o volume de notas do dinheiro público que entra no bolso de muitos funcionários ou cargos de confiança da Prefeitura de Campos, não existe uma bandeira, uma sigla política ou preço que pague o dever que um profissional de comunicação exerce no exercício de sua função, que é o de informar com imparcialidade.
Portanto, só realmente sabe dar o devido valor ao povo aquele que vem e que convive diariamente com a população, reconhecendo suas necessidades, suas carências, o descaso do poder público do qual são vítimas, dos enganos que sofrem pela ignorância e por ainda se deixar levar pela politicagem, pela política mesquinha, estreita, que serve apenas para beneficiar alguns gatos pingados, engordando suas contas bancárias e aumentando a quantidade de seus patrimônios.
Assim sendo, querido amigo, não acredito que o pré-conceito, neste caso, tenha algum sentido, afinal, ninguém deixa de falar com fulano porque ele é homossexual, ou deixa de andar com beltrano porque compartilha dos mesmos ideais de cicrano. Pense bem nisso e, quando for tecer qualquer tipo de comentário que não consiga caber apenas em sua boca, talvez pela dimensão ou pela própria tendência em ser mexeriqueiro, avalie duas vezes, porque “quem fala o que quer, acaba ouvindo - e até mesmo lendo -, o que não quer”.